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Crítica: Winter On Fire - Ukraine's Fight For Freedom

Este post vem para finalizar a série de críticas cinematográficas que eu havia prometido para essa semana. As outras duas você pode conferir aqui e aqui. Esse texto foi um desafio, pois nunca havia escrito uma resenha sobre documentário então ainda tenho muito a melhorar nisso, espero que compreendam. Enfim, eu iria trazer a crítica de outro filme, mas este documentário me comoveu e precisei escrever sobre ele.

Winter On Fire é um documentário que acompanha as manifestações que ocorreram ao longo de 93 dias entre o final de 2013 e início de 2014 na Ucrânia. Quando o presidente ucraniano decide não assinar um acordo de aproximação de seu país com a União Européia, milhares de estudantes vão às ruas demonstrar sua insatisfação e são reprimidos com violência pela polícia. A atitude que visava exterminar os protestos desencadeou um sentimento de união por toda a Ucrânia e então o povo passa a ocupar as ruas para fazer diversas outras reivindicações.



Como o próprio subtítulo da produção diz, o documentário acompanha de perto (muito de perto, por sinal) a luta por liberdade do povo ucraniano. O longa se inicia no dia 93, sem revelar o que aconteceu e consegue chocar, mesmo que você tenha acompanhado os noticiários na época e saiba de todo o contexto político do leste europeu. Transformada em um barril de pólvora desde sua independência em agosto de 1991, o documentário narra, começando pelo desfecho, a nova explosão civil que ocorreu na Ucrânia e os desdobramentos de uma série de manifestações que levaram à morte mais de 125 pessoas e outras 6.000 nos conflitos que se seguiram até 2015.

Porém, a produção é toda focada nas manifestações pré-fuga do presidente ucraniano, ou seja, a guerra que ocorreu na região da Crimeia fica de fora, Muito bem colocado no início do documentário, há um trecho de "narração em off" que busca explicar alguns fatos para que seja possível compreender o que está acontecendo e então, a partir daí é iniciado um dos documentários mais enervantes que já assisti. Isso porque muito do que aconteceu nesse país à época ficou de fora das notícias e a forma como a narração da história é construída é capaz de chocar e emocionar.

O documentário, que é mais um dos conteúdos originais do Netflix, narra os eventos em ordem cronológica e acompanha de perto alguns dos "personagens" dessa iniciativa popular através de entrevistas nos locais em que ocorreram as manifestações. Dessa forma, consegue transmitir todo o impacto dos confrontos por fazer você se afeiçoar pelas histórias dessas pessoas, sabendo que tudo realmente aconteceu. Contando com uma brilhante montagem, há entrevistas pós-acontecimentos e entrevistas que foram filmadas na época, criando paralelos entre a percepção que os envolvidos tinham dos acontecimentos em diferentes períodos de tempo.

As filmagens obtidas pela equipe do documentário são simplesmente sensacionais, ao tempo todo situando o espectador e obtendo imagens muito próximas dos confrontos, te colocando no meio dos embates entre os manifestantes e a polícia, transmitindo a sensação angustiante de que vidas estavam em jogo por causa de ideais, A edição do material obtido também consegue deixar bem claro quais eram as motivações dos envolvidos, mostrando que pessoas de diferentes profissões, classes sociais e posicionamento político estavam unidas em prol de sua nação.

Para compor tanto as cenas dramáticas quanto as permeadas de ação, foram escolhidas trilhas sonoras dignas de filmes de Hollywood, mas que muitas vezes se faziam ausentes pois os gritos nas ruas e os barulhos de explosão criam uma atmosfera muito mais assustadora do que músicas.

Winter On Fire peca ao mostrar apenas um lado da história. Apesar de ficar claro que o povo lutava por seus direitos, muitas outras questões eram inerentes ao conflito. Diversas vezes o estado e algumas personalidades são retratados como vilões, e eram mesmo, mas mereciam direito de resposta ou ao menos ser citado que foram procurados para esclarecimentos. Por exemplo, os soldados da tropa de elite ucraniana, os Berkuts foram acusados de trair seu país pela forma violenta com que cumpriram suas ordens, acabando dissolvidos no final de 2014, mas não há sequer uma oportunidade no documentário todo de que um desses militares pudesse mostrar sua visão sobre o ocorrido. Assim, a narrativa trata-se de uma história apenas de heróis e mártires com vilões sem voz.

A qualidade técnica do documentário é indiscutível: foi indicado para o Oscar de 2016, mas acabou derrotado por Amy, também uma produção da Netflix. O diretor, Evgeny Afineevsky, é um russo criado em Israel e demonstra que sua vivência o ensinou a contar histórias e imergir quem assiste nelas.

Muitas vezes ao longo do documentário, não é necessário que algum envolvido te conte o que aconteceu, ou uma narração explique: as imagens falam por si, os dramas estão ali para serem vistos, a violência mostra sozinha quão produto do ódio ela é. O ponto mais forte da produção é saber quando as imagens valem muito mais do que um milhão de palavras e isso torna-se muito claro nos momentos de esperança e felicidade próximos do final, contrastados de forma inteligente pela dor de tantas vidas que se perderam e de tantas jornadas afetadas.

Tenso, atual e dramático, Winter On Fire, é um daqueles documentários que empolgam, chocam e indicado para todos que desejam ter uma nova visão sobre os acontecimentos contemporâneos. Ao final de sua exibição, há uma frase interessantíssima de uma das entrevistadas que, emocionada diz, capaz de fazer refletir: "Não consigo aceitar que depois de tantas guerras no mundo, que ainda resolvamos nossos problemas matando uns aos outros".

Ficha técnica:
Data de lançamento: 09/10/2015
Duração: 1h38min.
Direção: Evgeny Afineevsky
Roteiro: Den Tolmor
Gênero: Documentário
Disponível no Netflix? Sim

Trailer:


Um enorme obrigado se você leu até aqui, de verdade. Abraço, espero te ver em minha masmorra de novo. 

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SOBREMIM

Sou Henrique Simão, sempre (mesmo) gostei de escrever, ler, jogar videogame e assistir filmes. Então decidi juntar todas essas coisas em uma: criei o Masmorra Cultural. Mas o que faço da vida não tem nada a ver com tudo isso, cursei 1 semestre de Jornalismo e tive que sair do curso. Hoje faço faculdade de Gestão Empresarial e trabalho em um Escritório de Gerenciamento de Projetos. Escrever é meu passatempo, jogar, ler e assistir também, porém continuo atrás de meu sonho que é escrever um livro, pelo menos um, aproveitando as milhares de ideias que surgem todos os dias. Amo música e futebol também, tenho constantes embates internos com meus sentimentos e filmes de romance, em minha opinião, são os que mais se aproximam de um retrato da realidade

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