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Crítica: Invocação do Mal 2 (2016)

Depois de 7 anos dos acontecimentos de Invocação do Mal (2013), o casal de demonologistas Ed e Lorraine Warren precisa ir até a Inglaterra para resolver o caso de uma família atormentada por um poltergeist. Mas a ameaça é maior do que eles imaginavam e a vida de todos fica em perigo quando precisam decidir quão longe irão para ajudar as pessoas diante de um presságio de morte tido por Lorraine.



Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2: The Enfield Poltergeist) faz tudo o que seu antecessor fez, com alguns aprimoramentos muito bem vindos. Esse "tudo" inclui o principal fator responsável pelo sucesso dessa franquia, que conseguiu se destacar há 3 anos ao superar o momento de baixa para os filmes de terror: O aproveitamento de clichês do gênero, sem se tornar preguiçoso a ponto de não construir nada de novo. Os clichês do terror estão lá (mesmo que em pequena quantidade, pouco perceptíveis até), mas são utilizados de forma criativa pela produção. Assim, são construídas cenas semelhantes a que já vimos em clássicos (como O Exorcista de 1973 e Poltergeist de 1982), porém fica claro que o material de base serviu apenas como inspiração, então os clichês propriamente ditos deixam de ser cópias e passam a ser uma nova visão, um terror moderno e digno de elogios ao seu diretor, James Wan.

Digo que este filme é um terror moderno porque ele não é puramente um "filme de monstro", não trata-se de um suspense de horror psicológico (como foi o excelente A Bruxa, 2016), não é mais um filme de possessão, não é apenas sobre os terrores que acontecem com uma casa ou personagem predestinados a passar pelos acontecimentos tenebrosos, mas possui elementos de todos esses exemplos citados anteriormente. O longa é uma incrível mistura de diversos sub-gêneros, recortados e coerentemente colados para dar forma a algo com que seu diretor pudesse brincar de assustar.

Ainda explicando porque utilizei a definição de "terror moderno", é necessário ressaltar um dos principais trunfos da produção: quantos filmes de terror você já assistiu que foram capazes de te emocionar? Esse consegue! Não sou apenas eu falando, como o filme já estreou há quase 1 mês pude reparar que diversas resenhas sobre ele traziam esse ponto como destaque e fui ao cinema cético, duvidando de que a trama pudesse despertar sentimentos característicos de um drama ou romance. Mas no final das contas não adiantou: o roteiro e as excelentes atuações da dupla de protagonistas (Vera Farmiga e Patrick Wilson) faz com que você torça para eles, tenha receio de algo possa acontecer com os dois e queira até saber mais sobre a vida deles. Farmiga convence o tempo todo com sua devoção pela fé e Wilson surpreende na cena que é, em minha opinião, a mais bela do filme. Vou evitar o spoiler, mas você vai saber quando assistir: cena do violão.

Mesmo assim, a melhor atuação do filme fica a cargo da jovem Madison Wolfe no papel de Janet, a principal vítima do Poltergeist de Enfield. Ela simplesmente arrasa e entrega uma atuação crível, por vezes passando a sensação de que estamos assistindo um daqueles vídeos de supostas possessões. Não é fácil interpretar alguém que está sendo possuído: é necessário soar assustador, violento e ao mesmo tempo com a fragilidade de uma criança. Madison consegue,

A trama aborda um caso real, o Poltergeist de Enfield que repercutiu muito na Inglaterra durante o final da década de 70 e por isso, acertadamente mostra todos os lados dessa história: as acusações de charlatanismo por parte da família, o sofrimento dos afetados pela suposta assombração, o casal principal e seus dramas pessoais, tudo isso na medida certa. O roteiro utiliza-se de um truque para que você não seja capaz de descobrir tudo antes do final, mas também não é de todo surpreendente, o que já é um trunfo em meio a tantas produções previsíveis no gênero. 

As cenas de alívio cômico são realmente engraçadas e com o tom correto, um timing digno de comédias mesmo, necessárias para aliviar o clima tenso que permeia os 133 minutos do filme.

Destaque para a cena maravilhosa da freira no quadro. Deu vontade de levantar e aplaudir naquele momento, por ser tão bela. A personagem freira nem é a principal ameaça do filme mas rouba a cena por sua caracterização macabra (a única capaz de me causar um arrepio), deveria ter tido mais tempo de tela, talvez. E o destaque negativo fica por conta do uso horrendo de CGI na criação do Crooked Man, cena que destoa completamente do resto do filme e é capaz de balançar a suspensão de descrença do espectador porque, por mais que a existência de entidades sobrenaturais seja discutível, a imagem cartunesca desse personagem não combina com o realismo adotado durante todo o tempo de exibição do longa.

Invocação do Mal 2 é um filme em geral muito melhor do que é um filme de terror, na verdade. James Wan consegue utilizar de jogos de ângulos que te fazem pensar "como a câmera passou por ali?", atravessando paredes e janelas para ambientar muito bem o espectador e dar a sensação de proximidade necessária para criar empatia com os personagens, além de deixar bem claro onde tudo está acontecendo a todo instante. 

O elenco é muito bom, o roteiro escorrega em alguns pontos mas envolve, a direção vêm das mãos de um dos melhores da década mas em nenhum momento o filme me causou desconforto, me pressionou, me chocou ou impressionou a ponto de dar medo de verdade. Há inúmeros momentos de  jumpscare, porém alguns minutos depois do filme acabar e pronto: o "terror" passou. A atmosfera toda do filme trabalha para te dar medo, mas falha pois o clímax e a construção do final do filme sacrificou essa sensação em prol da conclusão do drama do casal protagonista ao invés de girar em torno de derrotar a assombração, o que ocorre de maneira muito simples depois de tudo dar a entender que ela era forte demais.

Também ficam as necessárias pontas soltas para as continuações, com mais elementos do universo de terror do casal Warren (assim como a boneca Anabelle teve seu filme solo depois) e indícios de que haverão novos spin offs. Isso deixa todos os apreciadores do terror apreensivos pois sabemos como as coisas se tornam máquinas de dinheiro após algum tempo. Mas enquanto James Wan estiver a frente das produções saberemos que virão coisas de qualidade.

Concluindo: perceba que em meu texto eu citei que o filme possui comédia, romance, drama, desenvolvimento de personagens e trama envolvente. Não parece que estou falando de um filme de terror. Ou seja, faltou terror para que Invocação do Mal 2 se tornasse um filme espetacular. Ele é ótimo, faltam-me elogios ao filme que conseguiu ser igual ou melhor a seu predecessor, porém fica esse sentimento de que ele poderia ter sido mais assustador...um pouco mais de terror nesse filme de terror.

Invocação do Mal 2 merece ser assistido pois consegue agradar tanto aos amantes do gênero quanto aos que simplesmente gostam de assistir a um bom filme.

Ficha técnica:
Data de lançamento: 09 de junho de 2015
Duração: 2h13min.
Direção: James Wan
Elenco: Vera Farmiga, Patrcik Wilson, Madison Wolfe
Gênero: Terror

Um enorme obrigado se você leu até aqui, de verdade. Abraço, espero te ver em minha masmorra de novo. 

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SOBREMIM

Sou Henrique Simão, sempre (mesmo) gostei de escrever, ler, jogar videogame e assistir filmes. Então decidi juntar todas essas coisas em uma: criei o Masmorra Cultural. Mas o que faço da vida não tem nada a ver com tudo isso, cursei 1 semestre de Jornalismo e tive que sair do curso. Hoje faço faculdade de Gestão Empresarial e trabalho em um Escritório de Gerenciamento de Projetos. Escrever é meu passatempo, jogar, ler e assistir também, porém continuo atrás de meu sonho que é escrever um livro, pelo menos um, aproveitando as milhares de ideias que surgem todos os dias. Amo música e futebol também, tenho constantes embates internos com meus sentimentos e filmes de romance, em minha opinião, são os que mais se aproximam de um retrato da realidade

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