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Minha Experiência com: Sons of Anarchy [SEM SPOILERS]

É difícil falar sobre alguma coisa que te cativou tanto ao longo de tanto tempo. Foram 92 episódios durante 7 temporadas, com muito mais altos do que baixos, onde uma tragédia (bem ao estilo Hamlet) é contada, mas é impossível sintetizar tão basicamente todo o enredo e sentimentos que a série transmitiu.

Nesse post lhes trago minha experiência com a série Sons of Anarchy, uma incrível demonstração de quanto as séries de TV evoluíram ultimamente.



Começando com uma breve sinopse: A série acompanha o dia a dia de um moto-clube, o SAMCRO (Sons of Anarchy Motorcycle Club Redwood Original) centrada na vida de Jackson "Jax" Teller, o vice-presidente, filho do falecido fundador do clube, John Teller. Durante as sete temporadas passamos a assistir a sobrevivência de Jax e seus amigos na vida criminosa, com muitas mentiras, traições e mortes.

O espectador aprende que a ideia inicial do clube era apenas uma irmandade criada por amigos que voltaram da guerra do Vietnam e encontraram um país completamente diferente onde não havia mas espaço para eles. Decidiram então, viver uma vida de liberdade e anarquia que foi se perdendo ao longo dos anos com a necessidade que o clube tinha de conseguir dinheiro através de crimes e as divergências entre as ideologias de John e seu melhor amigo Clay Morrow, que juntos tinham uma oficina mecânica. Nos dias em que se passa a série Clay é casado com Gemma, mãe de Jax, e é também presidente do clube que lidera realizando contrabando de armas e eliminando os inimigos que entram em seu caminho.
Os First Nine - Fundadores do clube

"A maioria de nós não é violento por natureza. Todos tivemos nossos problemas com autoridade mas nenhum de nós era um sociopata. Acabamos percebendo que quando você leva sua vida fora das classes sociais você desiste da segurança que a sociedade fornece. Na margem da escala social, sangue e balas são a regra da lei e se você é um homem com convicções a violência é inevitável" - John Teller















Sons of Anarchy aborda diversos temas ao longo de suas temporadas mas acredito que o que mais me chamou a atenção foi a "família" e como nossas decisões afetam aqueles que amamos. O protagonista, Jax Teller, tem que lidar com a recente paternidade conciliando seus deveres com o clube e a responsabilidade de cuidar de sua família, pois como bem sabemos, ao criar inimigos o amor se torna seu ponto fraco.



Assim, a mistura entre violência e ambiente familiar se torna comum durante os episódios fazendo com que quem acompanha a série comece a questionar a conduta dos envolvidos mesmo sendo apegado a eles. O clube possui suas próprias regras morais e a ética deles é bem distorcida mas tudo está inserido no cânone da criação de uma irmandade onde a anarquia dita a vida daqueles que se propõe a uma vida dedicada aos ideias do Ceifeiro.



Novamente falando da violência, ela está presente em todos os episódios e de diversas formas mas nunca é gratuita. É sim usada para dar um ritmo de ação á série, seja com perseguições em alta velocidade, tiroteios entre as gangues ou para conseguir vingança de um jeito cruel através de retaliações banhadas a sangue. É interessante como ficamos chocados e ao mesmo tempo aceitamos a forma como os motoqueiros encontram para resolver seus problemas, lidando com a situação que se agrava a cada episódio. Existem diferentes formas de aguentar o peso das responsabilidades e os personagem reagem distintamente também frente ás constantes mortes.













"Quando agimos para vingar aqueles que amamos, justiça pessoal colide com a justiça social e divina. Nos tornamos juiz, juri e Deus. Com essa escolha vem a responsabilidade assustadora. Alguns homens desabam sob o peso. Outros aproveitam o momento. O verdadeiro fora da lei encontra o equilíbrio entre a paixão em seu coração e a razão em sua mente. Sua solução é sempre uma mistura igual de poder e dever". - John Teller.


Os personagens e o desenvolvimento deles é o ponto alto da série, já que cada um tem uma história anterior aos acontecimentos da série que vai sendo revelada de forma a compor muito bem o enredo. Você acaba gostando mais de uns do que de outros mas todos são igualmente interessantes. Existem diversas reviravoltas que vão moldando seu conhecimento sobre a personalidade de cada um e é necessário estar preparado para perder os mais queridos.

Existe uma hierarquia no clube que é constantemente modificada, além dos diversos termos utilizados dentro do vocabulário dos motoqueiros que representam outras coisas. Esses homens demonstram uma lealdade ao colete que usam acima de qualquer coisa. Estão dispostos á matar ou morrer por seus irmão de estrada e viver ao lado deles uma vida que pode acabar a qualquer momento. Kurt Sutter, o criador e diretor da série (e também interpreta Otto que é um dos First Nine), criou um universo rico de detalhes que é incrível e se torna mais denso em cada temporada, fazendo com que o fã tema pela vida de seus queridos personagens ao mesmo tempo em que deseja fazer parte deles mesmo com os constantes desentendimentos entre os membros do clube, que muitas vezes levaram á caminhos perigosos.




"Dentro do clube, deve haver a verdade. Nossa palavra era nossa honra. Mas lá fora, era tudo trapaça. Mentiras eram nossa defesa, nosso padrão. Para sobreviver, você tinha que ser mestre na arte do perjúrio. Mentir e dizer a verdade tinham que parecer o mesmo. Mas uma vez que você aprendia essa habilidade, ninguém mais sabia a verdade dentro ou fora do clube, especialmente você". - John Teller




O clima de amizade e irmandade com pitacos de humor é impagável.


Lembrando dos diversos temas que são abordados, os que mais estão presentes são o racismo, terrorismo, a homossexualidade e a religião. São temas sérios mas que estão presentes em diversos momentos do seriado de forma cômica. Seja através dos conflitos raciais entre as gangues (negros, nazistas e mexicanos), o relacionamento engraçadíssimo entro o personagem Alex "Tig" Trager e Venus Van Dam (que é um travesti), os negócios que os Sons tem com o grupo terrorista irlandês IRA ou a fé de Nero Padilla, todos esses assuntos são expostos com naturalidade fazendo com que a série seja bem diversificada com relação ao seus público mesmo fazendo críticas não muito comedidas á todos os grupos citados.



O protagonista Jax, passa por muitos momentos difíceis em que ele cresce como homem e membro do clube. Movido pelos manuscritos deixados por seu pai e incentivado por sua não muito ortodoxa mãe, ele entra em um espiral de mentiras, mortes, traições e perdas. Da busca pela realização do sonho de John Teller até a completa perda de qualquer esperança ele entra em uma jornada auto-destrutiva que poderá transforma-lo em rei e decepção ao mesmo tempo.

Jax e John Teller - duas gerações de filhos da anarquia

"Eu percebi que em meu espiral descendente da falta de esperança eu estava na verdade caindo eu um grande buraco criado por minha ausência na falta de graça humana. A mais óbvia era perdão. Se eu fosse enganado por qualquer um, de dentro ou fora do clube, eu tinha que ser compensado com dinheiro ou sangue. Não existia isso de esquecer. Quando relacionamentos se tornam um degrau para lucro ou perda, você não tem amigos, nem pessoas amadas, só prós e contras. Você está completamente sozinho". - John Teller

Ele é de longe o personagem mais complexo da trama, um filho pródigo, um pai criminoso, um líder completo. Muitas vezes ele faz o papel do espectador que também desconhece muitas das artimanhas que estão sendo montadas por suas costas mas também sempre tem uma ideia brilhante pra tirar o clube das enrascadas. Motoqueiro bad boy e clássico anti-herói.



Apesar de todo o crime e violência os Sons of Anarchy não deixam de ser um motoclube e sua paixão pela estrada e velocidade não fica sem ser demonstrada. Os momentos em que os membros do clube e de suas filiais viajam juntos e em formação te fazer querer levantar do sofá e montar em uma Harley Davidson (mesmo que você não tenha uma, assim como eu). 



Regado com grandes doses de filosofia e sentimento os monólogos de Jax enquanto lê o manuscrito de seu pai ou escreve o seu próprio estão entre os melhores momentos da série e proporcionaram grandes momentos.


"Algo acontece por volta dos 150 km/h - O escapamento afoga todo o som. A vibração do motor viaja no ritmo do coração. O campo de visão afunila para o imediato e de repente você não está sobre a estrada, você está nela. Você é parte dela. Tráfego, cenário e polícia. Tudo é apenas papelão voando enquanto você passa. As vezes a emoção disso, é por isso que eu adoro essas viagens longas. Todos os problemas, os barulhos desaparecem...nada mais pra se preocupar além do que está em sua frente. Talvez essa seja minha lição pra hoje. Segurar-me a esse simples momento, apreciá-lo um pouco mais. Não há muito mais deles. Eu nunca quis isso para você, achar coisas que te fazem feliz não deveria ser tão difícil. Eu conheço sua cara de dor, sofrimento, escolhas difíceis, mas você não pode deixar o peso sufocar a alegria da sua vida. Não importa o motivo, você tem que achar as coisas que ama e correr pra elas. Há um velho ditado que diz "O que não te mata, te fortalece" - Eu não acredito nisso. Acho que as coisas que tentam te matar te deixam bravo e triste. Força vem de coisas boas, sua família, amigos, a satisfação de um duro dia de trabalho. Essas são as coisas que te mantém inteiro. Essas são as coisas em que se segurar quando está destruído" - Jackson Teller

O amor também é um elemento importantíssimo para a trama, que está repleta de casais, romances, cenas de sexo e ensinamentos sobre relacionamentos que podemos levar para nossas vidas. Apesar de se tratar de uma obra ficcional, o caráter de realidade se encontra muito presente através do casal Jax e Tara que proporcionam ao espectador momentos chocantes mas também alguns que nos fazem lembrar da pessoa que amamos.


 Um relacionamento construído e destruído diversas vezes mas que emocionou todos os fãs da série



Além da qualidade técnica inegável, com grande direção, fotografia espetacular e atuações memoráveis, Sons of Anarchy ficará sempre guardado em minha mente graças a trilha sonora ESPETACULAR que possui. Existem músicas que foram especialmente feitas para a série, algumas que são versões de clássicos do rock reinterpretados e outras que apenas foram inseridas perfeitamente na cena. A série tem simplesmente a melhor trilha sonora que já ouvi.

Algumas músicas merecem ser citadas com um carinho especial:

Greg Holden - The Lost Boy

Tocada durante um dos momentos mais emocionantes de toda a série, essa com certeza levou muitos ás lágrimas.

In that time I was alone                                      Naquela época eu estava sozinho
So many years without my home                      Tantos anos sem minha casa
I made brothers of a different kind instead        Fiz irmãos de um outro tipo

EU NAO SEREI COMANDADO, EU NÃO SEREI CONTROLADO E EU NÃO DEIXAREI  MEU FUTURO SEGUIR SEM A AJUDA DE MINHA ALMA



The White Buffalo - The House of The Rising Sun

Sintetiza todo o relacionamento de Tara e Jax com o clube em sua letra e é tocada no final de uma das temporadas quando um acontecimento muito esperado se realiza.

He's got one hand on the throttle                Ele tem uma mão no acelerador
The other on the brake                               A outra no freio
He's riding back to Redwood                      Pilotando de volta pra Redwood
To own his father's stake                           Pra herdar o trono de seu pai



Curtis Singer - This Life

Música de abertura que é tocada no início de todos os episódios e serve pra dar o tom da série.

 This life is short, baby that's a fact                     Essa vida é curta, baby isso é um fato
Better live it right, you ain't comin back             Tem que viver corretamente, você não vai voltar Gotta raise some hell, 'fore they take you down    Tem que tocar o terror antes que te derrubem

https://www.youtube.com/watch?v=xHQMvhcj0EI&spfreload=1

The White Buffalo - Come Join The Murder

A última música tocada na série, durante as últimas cenas. A letra demonstra a ideia dos Sons ao fundar o motoclube e todas as dificuldades que Jax e John enfrentaram em suas vidas mas transpassa a felicidade que a vida perigosa de motoqueiro criminoso também pode proporcionar.

Come join the murder                                  Junte-se ao bando
Come fly with black                                    Venha voar de negro
We'll give you freedom                               Te daremos liberdade
From the human track                                 Da existência humana


https://www.youtube.com/watch?v=DYD8Oz0IAdA


A mensagem final deixada pela série é linda. Uma sensação de que tudo aconteceu da maneira como tinha de acontecer, liberdade e encerramento á uma história feliz e triste ao mesmo tempo mas que sem sombra de dúvida eu levarei pra vida toda.

Novamente, é difícil dizer tudo que aconteceu durante as 7 temporadas, foram tantos acontecimentos, tantas cenas engraçadas e tantos sentimentos e experiências que são impossíveis de explicar mas deixo no final desse post a última mensagem que Kurt Sutter transmitiu.



Duvides que as estrelas sejam fogo;
Duvides que o sol se mova;
Duvides de que a verdade seja mentira;
Mas não duvides jamais de que te amo.
William Shakespeare


"Bom fora da lei e bom pai não podem estar dentro do mesmo homem. Sinto muito, J.T. Era tarde de mais pra mim. Eu já estava dentro disso e Gemma, ela tinha planos. Mas não é tarde demais pros meus garotos. Eu prometo que eles nunca conhecerão essa vida de caos. Agora eu sei quem você é e o que você fez. Eu te amo, pai." - Jax Teller


<fieldset class="val-fieldset"><legend>Classificação:</legend><span class="valoracion val- 50 "></span></fieldset>

Ufa, esse foi o post que mais deu trabalho até agora no blog mas foi por uma boa causa. Espero que todos que já conheciam a série tenham se identificado e os que nunca tinham ouvido falar dela tenham ao menos se instigado a assistir.

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Sempre procuro trazer conteúdo sobre cultura pop e mundo nerd, análises e expectativas acerca de filmes, séries, games e literatura.

Muito obrigado pela atenção, grande abraço e até a próxima

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SOBREMIM

Sou Henrique Simão, sempre (mesmo) gostei de escrever, ler, jogar videogame e assistir filmes. Então decidi juntar todas essas coisas em uma: criei o Masmorra Cultural. Mas o que faço da vida não tem nada a ver com tudo isso, cursei 1 semestre de Jornalismo e tive que sair do curso. Hoje faço faculdade de Gestão Empresarial e trabalho em um Escritório de Gerenciamento de Projetos. Escrever é meu passatempo, jogar, ler e assistir também, porém continuo atrás de meu sonho que é escrever um livro, pelo menos um, aproveitando as milhares de ideias que surgem todos os dias. Amo música e futebol também, tenho constantes embates internos com meus sentimentos e filmes de romance, em minha opinião, são os que mais se aproximam de um retrato da realidade

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5 comentários:

  1. Parabéns por esse post, muito bem elaborado. E passou realmente oque essa série se trata

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  2. Muito bom! Contar parte da emoção que a série transmite sem dar spoilers é algo raro, parabéns

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  3. Show....to me acabando de chorar com o final da série e lendo este post! Resume tudo q estou sentindo! Valeu!

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  4. Parabéns!
    Acebei de ler uma resenha onde alguém muito sem noção (e que provavelmente não consegue separar arte de ideologia e opinião política) afirmou que o relacionamento de Jax e Tara era um relacionamento abusivo.
    Que a Tara se privava para que Jax fosse feliz.
    Jax até mesmo se entregaria à polícia para que Tara retirasse as crianças de Charming, e por muitas vezes os obstáculos partiam de situações e incongruências relacionadas ao clube.
    Jax não podia simplesmente deixar tudo de lado e fugir sem por um ponto final naquilo tudo.
    E foi o que aconteceu no final, simples.
    Sinceramente sua resenha é bem melhor e demonstra o quanto você soube apreciar a arte e a obra de Kurt Sutter ao invés de vomitar conceitos ideológicos pré-fabricados para sanar a necessidade gigantesca que algumas pessoas têm de parecerem intelectuais, com suas verdades universais e argumentos irrefutáveis.
    No mais, meus parabéns pela resenha.

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  5. Woow com Charlie Hunnam, é um bom ator! Considero que está no seu melhor momento como ator. Ele sempre surpreende com os seus papéis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Seguramente o êxito de ator Charlie Hunnam de deve-se a suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Cada um dos projetos deste ator supera a minha expectativa. Tem muito estilo e personalidade.

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