Primeira parte de uma série de textos que pretendo postar uma vez por semana aqui. Venho escrevendo essa história como passatempo, então por que não compartilhar no blog? Além disso, o compromisso com a postagem semanal me incentivará a escrever mais.
Trata-se de um suspense que acompanha o policial John, que se vê em meio a um apocalipse zumbi e precisa sobreviver a qualquer custo para proteger aqueles que ama. Parece familiar, não é? Mas espere até começarem os flashbacks envolvendo a investigação dos crimes cometidos por um psicopata no passado. O terror volta para assombrar John e seus piores pesadelos se tornarão realidade.
1.
Ao sacar a
arma de dentro de seu casaco, John soube no mesmo instante que balas não
serviriam contra aquela coisa. De qualquer forma, instintivamente ele puxou o
gatilho: uma, duas, três, quatro, cinco vezes em um intervalo de poucos
segundos.
- Morra desgraçado! – Ele gritava
num misto de desespero e raiva – Morra, morra, morra.
Mas a coisa
não morreu. Continuava a andar cambaleante em sua direção, a boca entreaberta
produzia um som muito semelhante ao de alguém se engasgando. As mãos se
esticaram, o cheiro de podridão se tornava cada vez mais forte, fazendo com que
fosse até difícil respirar. John notou que dos buracos produzidos pelos
projéteis não jorrava sangue, mas um líquido escuro e espesso pingava como se
despejado por um conta-gotas. O rapaz olhou para trás, não havia saída. Uma
parede de tijolos rústica bloqueava seu caminho e seria impossível continuar
por aquele beco sem passar pela criatura. Os pensamentos corriam pela mente
dele, sentia que a morte o aguardava. Vira o que a criatura fora capaz de fazer
com o pobre coveiro e não desejava ter o mesmo fim, mas ao mesmo tempo não
sabia o que fazer. Ergueu a pistola novamente. Agora aquele ser estava a menos
de quatro metros dele, tinha que fazer alguma coisa se quisesse sobreviver. O
medo produzia um efeito anestesiante em suas pernas que agora pareciam pesar
toneladas. A criatura certamente tinha algum problema motor, pois seus membros
se mexiam de maneira débil. As pernas descontroladas incapazes de se movimentar
rapidamente e o pescoço pendendo para a direita. Sem saber quantas balas
restavam no pente, John resolveu disparar mais uma única vez, um tiro certeiro
entre os olhos daquilo que um dia fora um homem adulto. Depois do ruído alto do
disparo, ouvia-se apenas o eco produzido pela dissipação do som nas montanhas
próximas. O corpo caiu com um baque surdo, agora em silêncio, nada mais daquela
respiração grotesca.
Ainda em posição de tiro, John
sentiu que estava arfando. Seu coração batia tão forte que lhe doía nas costas.
Fazia frio naquela noite e o gás quente que saía do cano da arma produziu uma
fumaça distinta da névoa típica de inverno. A sensação de que aquilo era um
pesadelo terrível deixou de existir quando finalmente deu alguns passos em
direção ao corpo caído no chão e sentiu a dormência nas pernas. Pesadelos não
produzem dor. - Puta que pariu... que merda é essa? – A vontade inabalável de
tragar um cigarro surgiu e com o movimento que se acostumara a fazer ao longo
dos anos puxou um maço do bolso da frente da calça e ascendeu o objeto que
todos diziam que um dia o levaria a morte. Mas John não se sentia nada morto
depois de disparar várias vezes contra um cadáver que andava. Respirou a fumaça
tóxica e com as mãos tremendo, sem saber se era de excitação ou alívio, guardou
o isqueiro.
Agora o
líquido escuro escorria em golfadas pelo chão de paralelepípedos, saindo do
rombo na cabeça da criatura. Definitivamente estava morta. Mas todos também
devem ter pensado que a pessoa tinha morrido quando a enterraram a alguns anos,
julgando pelo estado de deterioração do corpo. Subitamente John retornou ao seu
estado de consciência normal e lembrou-se do procedimento padrão: precisava
chegar até a viatura e comunicar o acontecido pelo rádio. Desviando do cadáver,
o policial tentava recuperar a calma, não era nenhum novato e tinha que lidar
com a situação mesmo que não o tivessem ensinado na academia como proceder em
situação de ataque canibal por um cadáver reanimado.
Novamente de
arma em punho, caminhou até o fim do corredor lateral da capela e chegou ao
gramado na frente que levava ao cemitério. Planejava ir até o corpo do coveiro
e verificar se estava realmente morto, apesar de achar impossível que alguém
sobrevivesse depois de ter seu pescoço comido por outra pessoa, mas não foi
necessário. O coveiro agora estava vindo até ele. Ao longe ele pôde ver o homem
que requisitara uma viatura pelo 911, pois ouvira barulhos estranhos vindos da
igreja. Esse homem agora caminha colina acima em direção ao estacionamento onde
John se encontrava parado. Graças à luz da lua que iluminava a penumbra do
cemitério o policial pode ver, com uma expressão de horror no rosto, que o
velho coveiro com as fibras do pescoço expostas vinha acompanhado por dezenas
de outras pessoas. Uma pequena horda de homens e mulheres com as roupas
rasgadas, membros deslocados, cabelos longos e brancos ou sem nenhum fio na
cabeça, rostos desfigurados e magros, ossos expostos onde antes havia carne que
fora comida pelos vermes. Entre tantas covas vazias com terra remexida no solo,
havia ainda alguns que estavam saindo de dentro de seus caixões e mãos que
surgiam na superfície arranhando suas próprias lápides.
Naquele
momento John teve certeza de que estava presenciando o apocalipse. O inferno
deveria ter sofrido com uma superlotação e os mortos começaram a andar sobre a
terra. Nunca fora muito religioso, mas ouvira a esposa dizer diversas vezes que
o pastor vinha predizendo isso. Ele achava bobagem ela acordar cedo todos os
domingos para ir até aquela mesma igrejinha que ele se achava de frente agora,
ainda mais sabendo do passado criminoso do tal pastor.
- Ele pagou
pelo que fez, querido – Anne sempre dizia a mesma coisa – Ele encontrou o
perdão por seus pecados e agora quer que todos sigam o caminho de Deus.
- Ainda acho
que 15 anos na cadeia é pouco para um homem que abusou de uma criança. E se fosse nosso filho que passou por isso? – Perguntara
John certa vez, mas a esposa respondeu como sempre que julgava estar diante de
algo sem resposta – Deus sabe o que faz.
John não sabia
exatamente por que, mas depois de lembrar-se dessa conversa, disse em voz alta:
“Espero que Deus realmente saiba o que está fazendo”.
Um enorme obrigado se você leu até aqui, de verdade. Semana que vem tem mais Darkhill. Abraço, espero te ver em minha masmorra de novo.
SOBREMIM
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